quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Profetas da Ecologia .

ARPES ASSOCIAÇÃO DOS RECICLADORES PROFETAS DA ECOLOGIA DE SANTIAGO.




         Nossa história tem formato de movimento. Em meados de junho de 2004 (+- 18/06), uma experiente catadora procurava encontrar apoio para estabelecer a organização do recolhimento de material reciclável nas ruas de Santiago pelos catadores, chegando até um membro da antiga USPAM – União Santiaguense de Proteção ao Meio Ambiente que buscava uma relação prática para anos de reflexão. Cada um apresentou seus pontos de vistas e um outro encontro foi marcado.
A catadora trouxe o marido, que com pequeno carro, uma prensa de madeira com um macaco de automóvel e um velho barraco, na rua da Estação Rodoviária, depositavam o que a cada dia recolhiam. Um barraco simples mais capaz de dar a noção de como se processava o lixo reciclável.  Suas necessidades de trabalho e a busca de renda fizeram catando as sobras dos outros um trabalhado digno e ecologistas natos. As reuniões que se seguiram foram agregados ex-colegas de trabalho da usina de lixo de Santiago, todos experimentados trabalhadores que faziam a “triagem” de materiais para uma cooperativa de serviços que terceiriza este serviço público.
 A troca de experiências e a busca do objetivo comum, geração de trabalho e renda, lixo, ecologia e solidariedade deram suporte as metas a serem atingidas: ampliar a coleta seletiva, organizar esforços para conseguir carrinhos, espaço melhor e adequado para manipular a coleta, buscar orientação com mais experiência na área, formalizar o trabalho em grupo.
Em 15 de julho de 2004 o grupo teve reunião com representantes do Projeto Esperança/Cooesperança de Santa Maria. Recebemos informes sobre outras experiências, dificuldades e vitórias coletivas, organização de catadores e pequenos agricultores, força moral e espiritual para tocar o projeto, pensando na realidade de um pequeno grupo, buscar em primeiro momento a formalidade de uma associação para se ter idéia e o menor custo possível para ver a viabilidade e se viável, caminhar para o cooperativismo, buscando desde dos primeiros passos a cultura da solidariedade e cooperação.
Como juntar tantas intenções e ações para formalizar nossa existência, nossa ata de fundação, nosso endereço e identidade jurídica? Precisávamos de um nome que resumisse todas as discussões e intenções e norteasse nossa motivação. No vai e vem de palavras, letras e sugestões, saiu ARPES – Associação dos Recicladores Profetas da Ecologia de Santiago.
Em 02 de agosto de 2004 fundamos oficialmente a ARPES, com objetivo de organizar  o lixo, gerando trabalho, contribuindo com a limpeza da cidade, recuperação e preservação do meio ambiente, gerando renda que será divida com todos envolvidos no processo tirando os custos de formação, estrutura e manutenção, sem buscar a finalidade do lucro.  
Buscamos apoio na Câmara de Vereadores, onde fizemos numa pequena sala nossas primeiras reuniões, telefonemas, xerox, e-mail e material reciclável. Como o pequeno galpão da rua da Estação Rodoviária ficou pequeno, locamos um galpão na área central, para facilitar contatos distância dos percursos da coleta, espaço e instalação elétrica para uma máquina que prensasse o material recolhido, prensa esta conseguida em Santa Maria com um velho trabalhador do lixo por comodato.
Buscamos apoio de pessoas conhecidas e sensíveis as causas sociais e ambientais. Nosso Estatuto, registro e custos cartoriais foram bancados junto ao Senhor Paulo Isidoro, saudoso amigo Bacharel responsável pelo Cartório de Registros Especiais, um advogado amigo fez a revisão e assinatura do Estatuto e ata.
 Como todo mundo estava desempregado ou quase isto, buscamos um mercado de outro amigo e apoiador, que deu prazo para os ranchos pois as latas estavam vazias, e precisávamos alguns materiais para o dia a dia, na lida com o lixo e  no galpão.
Procuramos a URI – Universidade Regional Integrada para ajudar a pensar juntos a cidade projetos de trabalho. Convidamos o promotor público do meio ambiente para mostrar nosso galpão, trabalho e intenções e arrumamos um parceiro. Aos poucos conforme pernas e tempo, buscamos mostrar a proposta: prefeitura, policia ambiental, empresas, imprensa, grupos de serviço, vizinhos, colegas.... Todos ajudaram de algum jeito,  idéias, lixo selecionado,incentivando outras pessoas a selecionarem, crédito para comprar material para construirmos mais carrinhos, comer e mesmo dinheiro para pagar as primeiras despesas não previstas por falta de experiência.                                Sobrevivemos, estamos hoje com mais de treze trabalhando e vivendo desta história, e tantos outros passaram e deram sua contribuição. Alguns buscaram outras forma de ganhar a vida, outros saíram da cidade, alguns não conseguem entender a relação de associativismo ou cooperativismo, querem ser empregados e mandados, receber o salário mínimo e assim estão satisfeitos. Mas a maioria entendeu o espírito da coisa, batalha pela proposta, ganha conforme atingimos metas, compartilha custos, preocupações, sonhos e conquistas.
Temos metas e desafios para ampliar renda e novos postos de trabalho, entre elas precisamos de um galpão onde não pagássemos alugue, nossa própria prensa, uma locomoção motorizada para coleta mais distante e de materiais pesados, sucatas. Queremos trabalhar em conjunto com as forças organizadas e voluntários para melhorar a conscientização em relação a necessidades de coleta seletiva e preservação ambiental em escolas, universidade, empresas públicas e privadas, com as associações de bairro, casa a casa, porta a porta, e na medida do possível levar este trabalho a todos as cidades vizinhas. Queremos ter a oportunidade de trabalhar na Usina Municipal de Lixo de Santiago, porque temos certeza de que nossa experiência e parceiros, faremos daquele local a princípio inóspito, com o apoio do poder público municipal, estadual e federal um exemplo, o propósito maior de nosso trabalho, transformar os restos de nossa sociedade em renda e trabalho, um local apesar do lixo, um exemplo de reciclagem para todos santiaguenses, sem desperdiçar um parafuso, e buscar alternativas onde ela estiver para os grandes problemas hoje de mercado e desafio para a reciclagem local, regional e mesmo nos grandes centros, pneus, isopor, vidros e os gases produzidos por matérias orgânicas. Uma área para nosso lixo capaz de ser ate reflorestada, produzindo adubo orgânico, com otimização de recursos e experiências, um modelo pára um mundo novo.
È neste sentido que buscamos continuar nosso sonho e estamos formalizando junto a pesada e onerosa burocracia brasileira, transformarmos em cooperativa, ampliando possibilidades e oportunidades a todos os interessados no meio ambiente e possuam a visão que o lixo é uma fonte de renda, oportunidades.
Dos restos de empresas públicas e privadas, escolas, famílias, enfim das sobras do consumo que empilhamos nas ruas, sacos plásticos, depositados a céu aberto, sangas, terrenos baldios, catamos nosso sustento, selecionamos os materiais recicláveis, prensamos, carregamos toneladas de fardos compactados em caminhões que levam lixo reciclável e suor, e trazem renda, trabalho, dignidade, a cidade mais limpa e uma natureza mais respeitada, somos catadores de lixo, somos Profetas da Ecologia de Santiago.



SANTIAGO 09 DE FEVEREIRO DE 2004.
   

  


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