domingo, 3 de julho de 2011

Serra divulga documento preliminar e irrita comando do PSDB


Em mais uma demonstração de divergência, o comando do PSDB se recusou a referendar uma carta divulgada nesta sexta-feira (1º) pelo presidente do conselho político do partido, José Serra, com duras críticas ao governo Dilma Rousseff. Integrantes do conselho queriam a convocação de uma nova reunião para debate o texto com calma — mas Serra, autoritário como sempre, precipitou a divulgação à revelia dos tucanos.

A avaliação de membros do conselho é que não houve tempo suficiente para analisá-lo. “Tentei construir um consenso sobre a matéria, mas não tive tempo hábil”, admitiu o presidente da legenda, deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE). A ideia era que o documento fosse o primeiro fruto do colegiado criado pelos tucanos para acomodar Serra no comando partidário.

O ex-governador tentou viabilizar a divulgação pela sigla. Sem resposta, publicou a carta em seu site, mas, numa manobra golpista, atribuiu-a ao conselho político. Segundo Sérgio Guerra, o PSDB não pode assumir a autoria da carta sem aprovação da Executiva Nacional. “O partido não tem uma manifestação sobre isso.”

Em tom acima do adotado por grão-tucanos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o documento diz que o governo Dilma é marcado por “incompetência e autoritarismo”. De acordo com a carta — que foi intitulada “A nossa missão” —, “o PSDB não renunciará à denúncia desses atos”.

Serra apresentou o texto aos integrantes do conselho na última quarta-feira, às vésperas da primeira reunião com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin e Sérgio Guerra. O senador Aécio Neves (MG), que integra o colegiado, mas está de repouso por ter caído de um cavalo, recebeu uma cópia do documento já pronto.

Segundo Serra, o texto “não foi objeto de votação porque foi apresentado no mesmo dia [do encontro]. Mas os quatro que estavam na reunião gostaram muito”. O ex-governador acrescentou ainda que não fez o texto para que fosse votado, mas para servir de “base para discussão”.

A primeira reunião do conselho político, na última quarta-feira em Brasília, acabou ofuscada pelas comemorações dos 80 anos de FHC. Depois do encontro, alguns membros do conselho encaminharam considerações sobre o documento a Sérgio Guerra, que ficou de repassá-las a Serra. Mas, em vez de convocar nova reunião, Serra antecipou a divulgação do documento.

Outro dirigente do PSDB reconheceu que a carta divulgada por Serra não é um “texto conjunto” do colegiado. Para tucanos, o teor da carta contraria a estratégia de restaurar a imagem de FHC e reduzir o índice de rejeição à sigla, especialmente pela divulgação ocorrer depois de Dilma reconhecer a contribuição do ex-presidente para o país, em felicitação pelos 80 anos.

No documento, Serra, em tom revanchista, diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou uma “herança maldita” que atrapalha o crescimento do Brasil, por causa do tripé macroeconômico do governo — “a carga tributária mais alta do mundo em desenvolvimento, a maior taxa de juros reais de todo o planeta, ainda em ascensão, e a taxa de câmbio megavalorizada”.

“Sem poder reclamar publicamente da herança recebida, o novo governo promete que vai enfrentar os desafios, mas mostra falta de convicção e de rapidez, além de desorientação em matéria de prioridades”, choraminga Serra. No último parágrafo, ele faz uma autocrítica ao PSDB — que teria “um só possível inimigo: a desunião interna”.

O trecho foi amenizado, já que, na versão original, a expressão “possível” não existia. O texto aponta um dos motivos da desunião, em referência ao principal ponto de tensão entre Serra e Aécio Neves: a “antecipação das decisões sobre alianças e candidaturas em 2014”.

Reação petista
Ao comentarem o documento serrista, o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), e o líder do governo na Casa, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disseram que os tucanos estão “fora da realidade” e “distantes do povo brasileiro”. Teixeira lembrou que o governo da presidente Dilma Rousseff aparece nas pesquisas de opinião com índices de 80% de aprovação do povo.

“A análise de conjuntura do PSDB demonstra a distância que o partido tem do povo brasileiro. Para eles, o Brasil está mal. Essa é uma direção oposta à das ruas. O povo brasileiro aplaude o governo da presidente Dilma Rousseff, porque está enfrentando os problemas do país”, disse Teixeira.

No mesmo sentido, Vaccarezza afirmou que o PSDB está “divorciado da realidade e do povo brasileiro”. Segundo o líder do governo, governista disse que os tucanos mostram “desespero” quando falam de crise energética e de infraestrutura. “Em 2002, o Brasil viveu a maior crise na área de energia. As pessoas eram proibidas de tomar dois banhos por dia e as casas tinham de ficar com as luzes apagadas à noite”, criticou.

Vaccarezza acusou também os tucanos de estarem distantes do povo brasileiro ao falarem de descontrole da economia. “No governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o Brasil foi socorrido pelo Fundo Monetário Internacional por duas vezes, em 1998 e em 2002”, reagiu Vaccarezza. Em defesa do atual governo, Teixeira afirmou que Dilma tem executado políticas que atacam os problemas inerentes do desenvolvimento brasileiro.

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