domingo, 7 de agosto de 2011

Caiu Nelson Jobim, o arrogante

Ministério (assim como secretarias estaduais) não é lugar de seguidores cegos do chefe do executivo, mas de pessoas alinhadas com o projeto político do governante, mesmo que tenham críticas à sua forma de governar e as façam em reservado. O importante é que a equipe de governo e, consequentemente, os titulares dos ministérios (e/ou das secretarias dos governos estaduais) atuem em sintonia entre si e com os governantes maiores.
Não foi isto o que ocorreu com o ministro Nelson Jobim. Tanto ele fez, tanto abusou, tanto insistiu, tanto insinuou (já que, ao que parece, nunca teve coragem de apresentar diretamente suas críticas à presidenta), que acabou demitido. Na verdade, como diria Vinícius de Moraes, ele “abusou da regras três”!
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Que motivações o levaram a provocar, como provocou, a presidenta Dilma Rousseff? Nelson Jobim não é ingênuo. Nenhum ingênuo teria a sua biografia: deputado federal constituinte, membro da Comissão de Sistematização da Assembléia Nacional Constituinte de 1988, ministro e presidente do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal, presidente do Conselho Nacional de Justiça, ministro da Justiça do governo FHC e ministro da Defesa de Lula e de Dilma.
Nelson Jobim é tido como o pacificador das relações entre as Forças Armadas Brasileiras e o(s) governo(s) petistas de Lula e Dilma. Criado por FHC, o Ministério da Defesa sempre constituiu problema para os governantes, pois os comandantes militares das três armas sempre resistiram ao comando civil. Tanto é que seu primeiro titular foi um político com passado de serviços prestados à ARENA e ao regime ditatorial militar, o ex-governador e ex-senador do Espírito Santo, Élcio Álvarez.
Todos os demais ministros foram ou figuras civis de pouca expressão, que foram acomodados no ministério e não detinham poder de mando, ou foram militares respeitados na caserna e que não incomodavam os colegas de farda, ou foram, ainda, políticos que, pelo cargo que detinham na estrutura de poder, podiam enquadrar os militares, como foi o caso do vice-presidente da República de Lula, José Alencar.
Jobim vendeu a imagem de se fazer respeitar pelos militares. Suas fotos com trajes militares em plena selva amazônica e de uniforme camuflado ao lado e segurando jibóias, no entanto, evidenciam o contrário. Travestido de militar, sem o ser, ele se submetia ao ridículo, além de se submeter aos trajes e costumes de seus próprios comandados!
Fazer-se parecer o que não é, aliás, talvez seja uma característica do antigo ministro. Ele se autoatribui uma importância que, ao que parece, está sempre longe de possuir. Dele, diz-se à boca pequena, que “caminha como se carregasse, no colo, o próprio busto”, tal a empáfia que ostenta. Seria por se julgar mais importante do que de fato é que Nelson Jobim afrontou, repetidamente, o governo ao qual servia?
Chamar de “idiotas” os que o cercam hoje, em plena cerimônia de comemoração de aniversário do antigo presidente da República, FHC, declarar seu voto no adversário eleitoral da atual presidenta (isto, quando se faz, nunca se declara, mesmo constituindo direito, se não se quer constranger o governo que se integra no momento), afirmar que uma sua colega de ministério é “fraquinha” (mesmo que possa sê-lo) e que a outra “sequer conhece Brasília (ainda que ela, de fato, ainda pouco conheça os meandros do poder), só serviriam para criar embaraços. Isto Nelson Jobim, com certeza, sabia. Se o fez, foi com consciência do que fazia e por algum motivo suficientemente pensado e avaliado. Talvez ele se julgasse, quem sabe, indispensável ao atual governo…
Da demissão de Nelson Jobim não se deduza, no entanto, que, finalmente, o governo Dilma Rousseff esteja (de fato) começando, com a defenestração do quarto ministro herdado, de algum modo, do governo Lula. Antônio Pallocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e Luiz Sérgio (Relações Institucionais) deixaram seus cargos (Luiz Sérgio continua no governo, agora no Ministério da Pesca), mas não ocorreu nenhuma ruptura com o antigo presidente ou com as diretrizes do seu partido.
As trocas ministeriais são comuns nos sistemas presidencialistas. Nem por isto, muda-se o sistema, altera-se a forma de governar ou rompe-se com a coalizão governante. Dilma Rousseff é filiada ao PT, foi criada politicamente (como alternativa de governo) por Luis Inácio Lula da Silva e continuará governando com o PT, com Lula e com os partidos que compuseram a base do governo anterior e que compõem a base do governo atual. Nem por isto ela deixa de ter iniciativa própria, nem de ter um governo com sua feição.
No presidencialismo brasileiro, desde a instalação da chamada Nova República, em 1985, todos os governantes trocaram ministros sem trocar de base política. Foi assim com Sarney, que teve 56 ministros, com Collor de Melo, que teve 35 em apenas dois anos, com Itamar Franco, com 44 ministros em outros dois anos, com FHC, que teve 39 ministros no primeiro mandato e 56 no segundo e, finalmente, com Lula, que teve 64 ministros no primeiro e 38 no segundo mandato. Considerando-se que sempre existiram ao menos 30 ministérios em cada governo, fica fácil perceber que as mudanças são frequentes.
Que Dilma Rousseff tenha trocado quatro ministros em sete meses de governo coloca-a na média de seus antecessores. Efetuar tais trocas, portanto, não constitui novidade, nem evidência de ruptura com seu partido, com Lula ou com a sua base de apoio. Afirmar o contrário é evidência de desinformação ou tentativa de semear confusão e cizânia. Coisas que parte da imprensa e muitos opositores não assumidos fazem com frequência, mas que, quase sempre, levam a nada, a não ser deixar claro que suas análises são inconsistentes.

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