quinta-feira, 19 de julho de 2012

Imprensa e corrupção - J. M. da Silva.


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LACERDINHAS DA VEJA

               Não há mais corrupção hoje do que ontem. Nem sequer há instrumentos confiáveis para medir isso. A ideia de que nunca se roubou tanto neste país é uma estratégia política requentada. Foi assim em 1954, quando o governo reformista de Getúlio foi massacrado pela direita, liderada por Carlos Lacerda e apoiada pelo Partido da Imprensa Golpista, o PIG da época, que já incluía o jornal O Globo. Sempre que um governo de centro-esquerda comanda o país, a direita, acostumada a conviver com a corrupção e a praticá-la, torna-se vestal e denuncia corrupção e comunismo. Foi assim em 1964, quando a mídia praticamente inteira pagou o mico de apoiar o golpe contra um governo legítimo. Castelo Branco ficou de publicar um Livro Branco sobre a corrupção no governo João Goulart. Nunca o fez. O que cria essa percepção?


              O fato de que a mídia é dominada pelos conservadores. Quando eles não estão poder, voltam suas baterias midiáticas contra a corrupção, praticada certamente nos níveis condenáveis de sempre, tornando-a um fenômeno extraordinário. Lacerda denunciava no começo dos anos 60 o mensalão da Guanabara, a necessidade de comprar apoio de parlamentares. Algo mudou? Sim. Não se fala mais em comunismo e corrupção, mas em esquerdismo e corrupção. Orquestra antes comandada por Cruzeiro, Tribuna de Imprensa, Jornal do Brasil, O Globo, Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo e Correio da Manhã, hoje é tocada por Veja, O Globo, Folha de S.Paulo, Estadão. Em 1964, os ataques à corrupção escondiam o ódio às reformas de base. Agora, encobrem do ódio ao Bolsa-Família ao horror às cotas e a outros ditos benefícios sociais, sem contar a Comissão da Verdade. É a reação contra a perda de privilégios e de generosas tetas como o acesso reservado aos ricos em cursos de excelência em universidades públicas graças a um vestibular reprodutor das desigualdades sociais. Dói perder tantas boquinhas.

                 Tem corrupção? Claro. Tem de punir os mensaleiros? Claro. Nunca se roubou tanto neste país? Conversa fiada. Há um grupo de jornalistas chapas pretas, a serviço ideológico do PIG, destilando chavões para enganar a classe média mais simplória. Os novos lacerdinhas da Veja têm em Reinaldo Azevedo um ícone. Os lacerdinhas não se envergonham de pensar e falar como Jair Bolsonaro e de ter de justificar até a tortura no regime militar. Os lacerdinhas são velhas tias amarguradas com saudades dos coturnos, da palmatória nas salas de aula, da autoridade incontestável do pai, do professor, do marido, do homem branco, da elite, etc. Lacerda foi o homem mais nefasto para o Brasil no século XX. Era mentiroso, inescrupuloso e verbalmente violento. Tinha boa cultura. Os lacerdinhas copiam o mestre em quase tudo. Menos na cultura. Um lacerdinha não conhece nuanças. Vai dizer deste texto: "Ah, defendendo os mensaleiros, hein?". Papo furado. Quero cana para mensaleiros. De todos os partidos. Todos.

              Não há mais corrupção hoje do que havia em 1968, quando a ditadura, velha de quatro anos, impôs uma Comissão Geral de Investigações para combater a roubalheira. A mídia, por ter apoiado o golpe, tenta fazer crer que a ditadura só começou em 1968. Foi em 64.

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

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