segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Por que o DataFolha falha | Vinícius Wu

1. A discrepância entre os resultados apresentados pelas mais recentes pesquisas eleitorais divulgadas pelo grupo RBS chamaram a atenção de analistas e políticos gaúchos e suscitaram uma série de dúvidas a respeito dos motivos que levaram à apresentação de números tão distintos em duas sondagens realizadas no intervalo de apenas uma semana.

2. As diferenças metodológicas são o principal motivo da discrepância entre as duas pesquisas. Tem sido recorrente a apresentação pelo Instituto DataFolha de resultados de pesquisa bem diferentes de outros institutos. O Datafolha, controlado pela família Frias – dona do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL – tem sido pródigo em produzir pesquisas “controversas”. Vem se tornando, cada vez mais, um Instituto de ação política e não de pesquisas.

3. Em 2010, o DataFolha insistiu em “manter” Serra na liderança da corrida presidencial mesmo depois de todos os principais Institutos do país – Ibope, Vox Populi e Sensus – apontarem a liderança de Dilma.

4 Na ocasião, o DataFolha atribuiu, em suas pesquisas, um peso maior para as regiões Sul e Sudeste, onde Serra mantinha maior simpatia junto à classe média. O Instituto chegou a aumentar as amostras em oito estados do centro-Sul, que concentraram 9.750 entrevistas, num total de 10.730. E, assim, “sobraram” 908 questionários para outros 19 estados! Com essa amostragem distorcida, o resultado acabou favorecendo José Serra.

5. A distorção foi tamanha que até mesmo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aceitou o pedido do PRTB para abrir os dados das pesquisas do DataFolha visando a “verificação e fiscalização da coleta de dados, incluindo as identificações dos entrevistadores, para conferir e confrontar os dados do instituto”.

6. Para quem não se lembra, em março de 2010, enquanto os Institutos Vox Populi e Sensus já apontavam empate técnico entre Serra e Dilma, o DataFolha dava 10 pontos de vantagem para Serra! Em Abril o instituto ampliou a vantagem de Serra para 12 pontos.

7. Logo após esse episódio, no início de Maio de 2010, a Procuradoria-Geral Eleitoral aceitou uma representação do Movimento dos Sem-mídia e determinou à Polícia Federal a instalação de inquérito para apurar eventuais crimes eleitorais por falsificação de pesquisas. E após esse acontecimento, subitamente, na pesquisa seguinte – já no final de Maio de 2010 – o DataFolha surge com uma nova pesquisa na qual a diferença de 12 pontos a favor de Serra havia desaparecido.

8. Mesmo assim, o Dafafolha insistiu na apresentação de pesquisas favoráveis à Serra, que divergiam, principalmente, das realizadas pelo Insituto Vox Populi. O resultado já conhecemos e sabemos quem estava com a razão.

9. A pesquisa DataFolha/RBS da ultima semana pode ter aberto a “guerra das pesquisas” no RS e é fundamental que o eleitor, militantes e dirigentes das campanhas tenham consciência do quanto as “opções metodológicas” podem influenciar resultados e beneficiar determinados candidatos. Os Institutos sabem muito bem disso e, não raro, acabam favorecendo determinadas posições políticas deliberadamente.

10. O Datafolha faz pesquisas em pontos de fluxo (corredores comerciais), enquanto outros institutos (como o Ibope) realizam pesquisa domiciliar. O aconselhável, segundo estatísticos, é que, no primeiro caso, a amostra seja duplicada ou mesmo triplicada em relação a uma pesquisa residencial. E não foi o que ocorreu com a pesquisa realizada pelo DataFolha, que contou com apenas 1248 questionários. A pesquisa do Ibope – realizada em amostra domiciliar – foi feita com 812 questionários.

11. O Instituto da Família Frias reduz custos com sua opção de pesquisa em pontos de fluxo e consegue preencher muito mais questionários em um tempo muito menor. Vejamos: na ultima pesquisa Ibope/RBS foram respondidos 812 questionários entre os dias 02 e 07 de agosto (6 dias). Na pesquisa DataFolha/RBS, foram 1248 questionários em apenas 3 dias! (De 12 a 14 de agosto).

12. Pesquisas realizadas em “pontos de fluxo” tendem a captar as parcelas da sociedade mais ativas economicamente e com maior mobilidade. Com isso, as vilas e comunidades periféricas são precariamente alcançadas por estas pesquisas. E assim, os candidatos que têm uma proporção maior de votos entre os mais pobres tendem a registrar uma pontuação abaixo do que realmente têm. E os candidatos que têm uma proporção maior de votos na classe média marcam acima do que, de fato, têm.

13. Pesquisas realizadas em domicílios são muito distintas daquelas feitas em pontos de fluxo e não são comparáveis. E, a essa altura da campanha, a história e a teoria indicam que as primeiras costumam ser mais confiáveis.

14. Os erros acumulados pelo DataFolha nas ultimas eleições, em especial, nas eleições de 2010 atestam empiricamente que esse instituto insiste em apoiar suas pesquisas em um método que pode servir a distorções. O uso de pesquisas para incidir sobre os processos eleitorais não é novidade no Brasil. A discrepância entre os números do Ibope e do DataFolha no Rio Grande do Sul indicam que a disputa pelo Piratini, de fato, começou.

* Foto de Juliano Antunes / Sul Vinte Um

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